Gosto muito de futebol. Não pense o contrário ao ler o que agora direi. Sempre gostei do esporte importado da Inglaterra, esporte bretão. No entanto ando desconfiado dos benefícios dele à comunidade ampla e geral (creio que desconfiei tarde). É como se quem não gostasse de futebol fosse alguém esquisito, inadequado. Esquisito é praticamente todo mundo gostar só de futebol, isso sim.
Há um exagero explicito da mídia na massificação desse esporte como único popular eletivo brasileiro enquanto outras centenas de modalidades esportivas são negligenciadas pela mesma. Noventa por cento de tudo o que vemos na televisão sobre esporte fala de futebol, os outros dez por cento do tempo restante é rateado entre o que as emissoras acham bom vender de acordo com os milionários contratos de patrocínio.
E o prejuízo que o futebol causa não é apenas na prática esportiva, mas também na crônica cotidiana, uma vez que não dá lugar à diversidade de opiniões, mas sim à meras repetições, e reduz o bate papo do cafezinho a um só tema. E a associação que é feita entre o futebol e a embriaguez? ‘Agora todo mundo chapado em frente a tevê vendo o futebol! Vai torcida!’ Ora, e se outras drogas forem legalizadas em um futuro não tão distante, o que o futebol venderá nos intervalos? Amendoim?
Na última década, vimos a imposição de determinado time pela mídia como algo natural. Mas não é pela natureza carismática do tal clube que a grande campanha fora empreendida. O motivo é que para a mídia é mais fácil agregar a grande maioria dos torcedores em um só curral para assim vender mais facilmente o seu produto. Afunila-se o que já era afunilado. Nosso cérebro padece de estímulos, nossa crônica padece de repertório, nossa vida cai numa monotonia cíclica. ‘Quanto ficou o jogo?’
Quanto à prática, desconfio que o futebol reduza grandemente as chances de as pessoas
terem uma vida esportiva ativa por ser um esporte severamente imposto pela
mídia. O futebol explora apenas determinadas habilidades do individuo, e nem todos são hábeis com os pés. Existem indivíduos inaptos com os pés e que podem ser hábeis com as mãos, por exemplo. Assim, há inúmeros jovens que possuem outras habilidades atléticas esportivas que acabam inexploradas ou pouco exploradas, sendo assim empurrados para o sedentarismo sem que percebam.
Ora, o futebol não é o único esporte digno de prática e atenção no mundo. O vôlei feminino, por exemplo, é tão complexo quanto ou mais. Quero ter a chance de acompanhar, aos domingos, o vôlei feminino na tevê aberta, com transmissão ao vivo e sem narração de algum gavião. Não seria justo a alguém que trabalhou a semana inteira e tem como uma das únicas opções de lazer o sofá da sala, e a tevê aberta, ter uma opção esportiva que não o futebol? E não seria saudável espalhar quadras e incentivo à outras práticas esportivas que não apenas uma? Futebol, desconfio...