sábado, 3 de setembro de 2011

RACHÃO PROFISSIONAL

Novamente estou ali, arrastado pela paixão mundana das multidões enfurecidas. O futebol é democracia em prática, em movimento. Ali, somos todos, na medida do possível, quase iguais. Ali, o sujeito leva dura (caso não seja dono de fortuna) igual ao humilde trabalhador braçal (caso este não seja reconhecidamente destemperado e parta para ‘vias de fato’ ao ser admoestado em campo ou quadra).

Somos um bando de jogadores amadores frustrados desde a infância, mal acabados, não pagos. Bárbaros, brutos, sonhadores.


Digladiamos pelo sonho perdido. Lutamos pela bola que rola pelas quadras do mundo inteiro todos os dias, todas as noites após o expediente de trabalho dito vocacional (há controvérsias).


Ninguém fala de nós. Ninguém nos vê. Somos a sombra dos jogadores que seríamos caso tivéssemos participado no teste do dente de leite do Botafogo de Ribeirão Preto ou do Asa de Arapiraca.


Mesmo assim, apesar dos pesares, achamo-nos craques. Achamo-nos talentosos. Achamo-nos os jogadores não descobertos, os talentos enterrados, as dracmas jamais encontradas. Achamo-nos injustiçados pelo destino que não nos fez jogadores de futebol profissional por negar um quinhão de generosidade. Queríamos ganhar o pão do suor que escorre de nossa face durante a peleja, também conhecida como rachão. Queríamos o assédio do mundo inteiro prensado numa imprensa repetitiva e amante dos jargões desbotados de tão surrados nos jornais e nos telejornais da vida. Acredite amigo, somos inconfessáveis jogadores de futebol que não ganharam o reconhecimento do grande mundo midiático de Midas. Não confessamos nem sob tortura, mas achamo-nos os jogadores que não se profissionalizaram por meros detalhes.


O destino quis assim. Não temos alternativa. Encontramo-nos pelos caminhos tortuosos e, por vezes, sinuosos da bola levemente oval de tanto receber bicudas na face. Vivemos o momento máximo ao fazermos o gol discretamente comemorado com um sorriso e um sutil soco diante do distintivo do clube do coração estampado na perna do short. Somos os peladeiros do futebol de verdade e não de cena.



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